Definições e Frequência
A obesidade chama-se mórbida quando provoca outras doenças (secundárias) que resultam do excesso de peso como sejam a hipertensão, a diabetes, a depressão, as artroses, a incontinência urinária, a apneia do sono, a hipercolesterolemia, a gota, o cancro da mama, do ovário, do enometria, do cólon e recto entre outros.
A obesidade mórbida é declaradamente uma doença crónica, reconhecida como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e em Portugal pela Direcção-geral de Saúde afectando uma larga faixa da população, estimando-se que em Portugal possa atingir os 3,5% da população, sendo a obesidade em geral presente em cerca de 14% da população. Já o excesso de peso, definido por um Indice de Massa Corporal superior a 30 Kg/m2 atinge mais de 50% da população.
A obesidade e a sua corte de doenças secundárias tem um elevado custo sócio económico sendo considerada pela OMS a “epidemia do Século XXI”. Sobretudo a diabetes mellitus tem custos calculados em diversos países como consumindo entre 10 a 25% dos orçamentos de saúde nesses países. A Hipertensão arterial é outro peso pesado da Saúde Pública e, conjuntamente com a diabetes e a dislipidemia (aumento do colesterol e triglicéridos), são responsáveis pelas elevada prevalência da doença cardiocérebrovascular, a principal causa de morte nos países desenvolvidos.
Etiologia e multidisciplinaridade
As causas da obesidade são várias: genéticas, endocrinológicas, psicológicas, educacionais e sociais sendo por esse motivo uma doença de dificil controlo. Mas, conhecendo-se já hoje, muitos aspectos dessas etiologia, a colaboração de especialidades ou valências como a dietética ou a psicologia ou a fisiatria é fundamental.
CIRURGIA BARIÁTRICA
A cirurgia bariátrica isto é, a cirurgia destinada a permitir um mais fácil controle do peso, faz corpo com disciplinas como a psicologia, a nutrição e a endocrinologia veio trazer nova luz a este campo. Nos últimos 10 anos, o numero de doentes tratado em grupos multidisciplinares envolvendo cirurgia bariátrica cresceu exponencialmente, fruto dos excelentes resultados obtidos. O tratamento multidisciplinar com cirurgia é, hoje em dia, a única modalidade de tratamento com resultados comprovados e duradouros a longo prazo e uma prática universal, sendo o bypass gástrico e o gastrectomia vertical calibrada (selva gástrico) das técnicas hoje em dia mais executadas em todo o mundo.
Cálculo do IMC
Para se avaliar a gravidade da obesidade usa-se, na prática, um parámetro que é o Índice de massa corporal (IMC)
IMC = Peso (Kg) / Altura (m)
IMC / Riscos de Morte
Aqui poderá avaliar o impacto na diminuição do tempo de vida dosa doentes obesos de acordo com o IMC e as doenças associadas já citadas.
Doenças associadas
De facto a obesidade mórbida está na base de todas as principais causas de morte em todo o mundo Ocidental.
A doença coronária e o enfarte agudo do miocárdio, as doenças cérebro-vasculares (AVCs incluídos), a maior parte dos tumores mais frequentes (mama, cólon e recto, próstata, endométrio e outros) são mais frequentes e mais precoces nas pessoas obesas contribuindo para a menor longevidade e redução da qualidade de vida (poder-se-ia dizer felicidade) na sua vida.
Dietas, cirurgia e felicidade
Se os regimes dietéticos puros, associados ou não ao uso de medicamentos manipulados, têm muitas vezes êxito e provocam emagrecimento nas primeiras semanas, verifica-se que apenas em menos de 5% dos casos a redução do peso se mantem a médio e longo prazo. O mesmo é dizer, após restrições e despesas acentuadas, 95% dos doentes voltam á linha de partida ou recuperam mesmo muito para além do peso que tinham antes da dieta. Quando os mais persistentes tentam de novo e o processo se repete, em muitos casos vezes sem conta, estamos perante aquilo que chamamos efeito Yo-Yo, dada a semelhança com a funcionamento do brinquedo com esse nome. O mesmo se passa com a colocação de ações intra-gástricos que por si, sem algo que altere profundamente o funcionamento do organismo, tem resultados quase nulos ao fim de 5 anos.
No tratamento integrado com cirurgia, não existe a palavra dieta e fala-se antes de reeducação alimentar e motora. O objectivo do tratamento é mudar o comportamento alimentar e físico do doente em definitivo. Só assim se conseguem controlar as doenças e melhorar a qualidade de vida e os níveis de felicidade. O que pretendemos é que o candidato a ex-obeso aprenda a comer bem, segundo regras racionais, consciente do valor calórico e nutricional do que ingere (ver “Regras alimentares para obesos”).
A cirurgia tem, de facto, um papel fundamental. Os seus efeitos fisiológicos podem-se classificar em:
1 – Efeito restritivo: consiste na redução da capacidade de ingestão de comida em volume, isto é, após uma cirurgia restritiva a pessoa não é capaz de “comer muito”, apenas pode comer pequenas quantidades e normalmente há dificuldade em deglutir alimentos mais fibrosos ou consistentes. Desta forma cada pessoa é obrigada a cumprir as boas regras da ingestão alimentar, isto é, dispor de tempo para comer em ambiente calmo, mastigar lentamente, pousar o talher entre duas garfadas, não se distrair a ver televisão, não beber líquidos à refeição, deixar de comer quando se ingeriu a quantidade predeterminada ou se sente satisfeita o que deve acontecer precocemente.
2 – Efeito metabólico: as alterações anatómicas induzidas pela cirurgia vai alterar o processo de produção de hormonas que regulam a fome e a saciedade. Sabemos hoje que a hormona que provoca fome (Grelina) diminui e a fome reduz-se, que as hormonas da saciedade (GLP1, GIP, PPY 3-36) aumentam a pessoa sente-se satisfeita e incapaz de continuar a comer mais cedo, a resistência à leptina diminui e há uma tendência menor para cada um se interessar pela comida.
3 – Efeito mal-absortivo: este consiste na redução da absorção de alguns nutrientes após a cirurgia e reduzindo a entrada de calorias no organismo o que constitui um mecanismo muito potente e mantido de emagrecimento.
4 – Efeito no metabolismo basal: qualquer cirurgia de bypass origina um aumento do metabolismo basal, ou seja, o organismo passa a gastar mais energia para manter as suas funções básicas como a termogénese, a função cardíaca e a respiratória, o metabolismo em geral. Pode-se dizer que, mesmo a dormir, um doente com um bypass gástrico consome mais calorias que antes da operação.
5 – Efeito neuro-hormonal: por vias ainda em processo de investigação, os doentes operados perdem o interesse por algum tipo de alimentos tipo chocolate ou salgados, responsáveis em muitos caso pela ingestão calórica excessiva, como nos doentes com distúrbios alimentares tipo “sweet eaters” ou “binge eaters”. Pode-se dizer que depois da operação os gulosos passam a ser menos gulosos e os petisqueiros menos petisqueiros.
O “MINIBYPASS GÁSTRICO” OU O “SLEEVED GASTRIC BYPASS”
Na Clínica RR a técnica mais executada é o “Sleeved Gastric Bypass” que é uma variante do Minibypass gástrico. Ambas as cirurgias induzem os 5 efeitos descritos o que torna esta técnica, tipicamente de tipo misto, uma cirurgia muito equilibrada. A restrição é menor que num bypass gástrico clássico (em Y de Roux ou tipo Fobi) e isso significa que os doentes podem comer de tudo em pequena quantidade. A má-absorção de gorduras significa uma perda extra de calorias que compensa a moderação da restrição a melhor perda de peso 5 e 10 anos depois da operação.
A redução da absorção de gorduras ingeridas funciona como se os doentes tomassem o Xenical, obtendo um emagrecimento maior e mais prolongado por essa via. Também por essa via, o hábito intestinal destes doentes altera-se e passa a haver uma aceleração do trânsito intestinal, a aumentar a frequência do movimentos intestinais e reduzindo-se a consistência das fezes. Estes efeitos levam a um efeito benéfico sobre a obstipaçã, problema frequente em muitos doentes que é a melhoria da obstipação ou prisão de ventre.
Além destas vantagens, é uma cirurgia com melhor perfil de segurança, com menos complicações e recuperação mais rápida.
O QUE VAI MUDAR NA SUA VIDA ?
De uma forma geral podemos dizer a sua vida vai melhorar muito e que vai viver mais anos e, sobretudo com mais conforto e alegria.
Em relação à alimentação espere poder comer de tudo embora tudo em pequenas quantidades e mais vezes ao dia. Fundamental é mesmo o assumir que alguns tipos de alimentos, refiro-me aos doces e gorduras, são autênticos sabotadores do tratamento e devem ser considerados, porque de facto são-o mesmo, promotores da doença e inimigos da Saúde
Pretendemos ainda qe o nosso doente adopte um comportamento mais activo em termos de actividade física. Com o apoio da equipa, em particular do fisioterapeuta, cada doente é estimulado, ainda antes da operação, para a prática de modalidades físicas compatíveis dado o excesso de peso à partida. As mais habituais são a caminhada, a dança, a hidroginástica, o bicicleta ou o ginásio com orientação de “personal trainer”. Com o tempo progresso do emagrecimento far-se-á, naturalmente, uma adaptação do tipo e carga de exercício à nova e melhorada condição física.
Desta forma, planeada e consciente, conseguem-se 95% de resultados excelentes, traduzidos em grandes revoluções, no sentido positivo, na existência de doentes com enormes ganhos na qualidade de vida e elevadas taxas de controle de doenças.
Com a “pequena” diferença de ser um resultado definitivo porque o doente aprendeu e as alterações decorrentes da cirurgia ajudam a controlar a tendência, natural mas indesejada, aos antigos hábitos de obeso.
Doenças como a diabetes, a hipertensão arterial, a depressão, a apneia do sono, a infertilidade, a dislipidemia (colesterol e triglicéridos), a hiperuricemia, a asma brônquica e outras, podem ser curadas ou substancialmente melhoradas com redução dos custos em consultas e medicamentos.
Mais ainda, o espelho e a balança voltam a ser amigos diários, o pronto a vestir volta a ser lugar de culto, no trabalho o rendimento aumenta, correr com os filhos deixa de ser penoso, as relações amorosas agradecem a mudança… Por isto e muito mais dizemos que este tratamento da obesidade é uma forma de obter Saúde e felicidade.
(Rui Ribeiro)